Maricá/RJ,

A LITERATURA NEGRA DE CONCEIÇÃO EVARISTO: CONSTRUINDO A IDENTIDADE DIASPÓRICA A PARTIR DOS VESTÍGIOS DA MEMÓRIA


                                                                             Bárbara Araújo Machado

Introdução

O presente trabalho tem como tema a literatura negra desenvolvida pela escritora mineira Conceição Evaristo, especificamente o romance Ponciá Vicêncio, publicado em 2003 pela editora Mazza. Procuramos compreender como se dá a relação entre memória e identidade no romance, tendo em vista a centralidade das questões racial e de gênero na obra da autora, caracterizada por ela própria como “uma escre(vivência) de duplaface” (EVARISTO, 2005).
Conceição Evaristo nasceu em 1946, em uma favela na cidade de Belo Horizonte. Filha de uma lavadeira que, assim como Carolina Maria de Jesus, matinha um diário onde anotava as dificuldades de um cotidiano sofrido, Conceição cresceu rodeada por palavras. Como gosta de enfatizar em suas entrevistas, isso não significa dizer que vivesse cercada de livros, mas que bebia na fonte da memória familiar através das histórias que os mais velhos lhe contavam. Tendo sido exposta desde pequena às crueldades do racismo, Conceição Evaristo tornou-se uma escritora negra de projeção internacional, além de uma militante que atua dentro e fora dos marcos da academia: é mestre em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e conclui atualmente seu doutorado em Literatura Comparada na Universidade Federal Fluminense. Publicou seu primeiro poema em 1990, no décimo terceiro volume dos Cadernos Negros, editado pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo. Desde então, publicou diversos poemas e contos nos Cadernos, além de uma coletânea de poemas e dois romances. No entanto, o nome de Conceição Evaristo, assim como o de outras grandes figuras da literatura negra brasileira, não aparece nos manuais consagrados da literatura nacional e soa estranho aos ouvidos da maioria das pessoas. Esse desconhecimento, relacionado a um contexto social e editorial marcado por preconceitos velados (ARAÚJO, 2007: 77) deve ser combatido com crescente força, pois a literatura negra, considerada uma contra-narrativa de um segmento extremamente oprimido da população, guarda em si uma potencialidade de transformação social através da arte. Nesse sentido, pretendemos colaborar para o reconhecimento dessa expressão artística tão rica, como veremos adiante.
No primeiro capítulo, traçamos um breve histórico do movimento negro organizado a partir da proclamação da República até os dias atuais. Nosso intuito, com isto, é observar o desenvolvimento das idéias, objetivos e debates presentes no movimento, no sentido de compreender a historicidade da obra de Conceição Evaristo, contextualizando-a. Em seguida, elaboramos uma discussão conceitual em torno das noções de raça, racismo, sexismo e identidade, que, sendo fundamentais para este trabalho, mereceram um tópico próprio para a explicitação dos seus sentidos.
No segundo capítulo, tratamos da literatura negra brasileira, que, em consonância com movimento negro do país, abala a literatura canônica que reivindica uma identidade nacional una e coesa, negando a existência da questão racial em nossa sociedade. Neste capítulo, apresentamos em linhas gerais o intenso debate em torno do conceito de literatura negra brasileira, apontando suas principais características e evidenciando sua diversidade. Por fim, tratamos especificamente da escrita das mulheres negras, que apresenta algumas características que a distinguem dentro da literatura negra em geral. Aproveitamos para tratar mais profundamente da associação entre racismo e sexismo, seus desdobramentos e a luta das mulheres negras pela consolidação de suas vozes dentro do campo literário e da história.
Tendo em vista essas questões, esboçamos uma análise do romance Ponciá Vicêncio no terceiro capítulo, na qual procuramos compreender o papel da memória na construção de uma identidade negra diaspórica. Longe de ter os méritos de um trabalho de especialista, nossa análise consiste apenas em uma tentativa de compreensão da obra, na espera de que possamos contribuir de alguma forma para a difusão do pensamento crítico em relação as questões aqui trabalhadas.

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